A promessa já é realidade — Rede de Tecnologia Social

A promessa já é realidade

Na zona rural de Pirenópolis, no estado de Goiás, Tecnologias Sociais são desenvolvidas pela Associação de Desenvolvimento Comunitário de Caxambu para atender pequenos produtores e preservar o bioma local.

Crédito: Laércio Miranda

O picles é um dos produtos gerados na Agroindústria de alimentos com a marca Promessa de Futuro

14/07/2011 – A história de sucesso a seguir começa em 1988, a partir do encontro entre uma médica sanitarista e um grupo de mulheres do povoado de Caxambu, na zona rural de Pirenópolis-GO. Tais mulheres carregavam consigo o interesse comum em melhorar as condições de saúde no local, e então começaram a produzir hortaliças e outras culturas com o objetivo de aumentar e diversificar a oferta de alimentos para suas famílias. Esse feliz encontro – e a sintonia entre seus personagens – deu origem à Associação de Desenvolvimento Comunitário de Caxambu (ADCC), entidade voltada para a criação de meios de vida sustentável para pequenos produtores e conservação do cerrado.

Junto com o cultivo orgânico de alimentos, a associação passou a integrar novas tecnologias. Entre elas estão o resgate de sementes crioulas, a Agroindústria de alimentos, a Moradia Camponesa e a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS).

O projeto de resgate de sementes crioulas é desenvolvido em parceria com a Embrapa Cerrados e está focado nas culturas do milho, feijão e mandioca. Mas ampliando os trabalhos, há também um projeto em elaboração que tem como objetivo principal o resgate de sementes de hortaliças. “A necessidade de abranger as hortaliças surgiu a partir do momento em que começamos a ter problemas com sementes compradas, como a baixa germinação”, afirma Elias Mesquita, agricultor extrativista associado ao ADCC. Assim, o grupo cria autonomia para produzir, deixando de ficar na dependência de sementes industrializadas.

Complementando essa tecnologia, a Agroindústria de alimentos funciona para agregar mais valor aos produtos, por meio do trabalho comunitário. Utilizando-se de alimentos diversificados, alguns provenientes do extrativismo – como a cagaita, baru, manga, jabuticaba e tangerina – e outros oriundos das sementes crioulas, são produzidos conservas, doces, geléias, picles, chutney e castanha de baru.

Com a marca Promessa de Futuro, esses produtos são comercializados. Porém, aqui a “promessa” fica apenas no nome. Hoje, os produtos estão consolidados no mercado de Brasília, com cerca de 80 a 85% do total produzido sendo comercializado na região. O restante ainda chega a restaurantes, lojas e consumidores finais em Pirenópolis, Rio de Janeiro e São Paulo.

Sobre a relação entre as duas Tecnologias Sociais, Elias é bem claro. “A Agroindústria e o resgate de sementes têm ligação direta, pois é de extrema importância termos domínio sobre as sementes para controlar a produção de acordo com as necessidades da agroindústria e, ainda, manter padrão de qualidade”, defende.

Outra Tecnologia Social desenvolvida pela associação é a Moradia Camponesa. Em um trabalho conjunto com o Movimento Camponês Popular, busca-se garantir moradia digna a todos os pequenos agricultores. O recurso é da Caixa Econômica Federal, enquadrado no Programa Minha Casa Minha Vida. Já o PAIS vem sendo desenvolvido nos quintais de seis famílias da região, proporcionando discussões sobre a sustentabilidade e dignidade das famílias.

A Moradia Camponesa também está ligada ao PAIS, pois o seu espaço físico fica integrado com o quintal e com a produção de alimentos. Para a geração de trabalho e renda na região, a união das quatro tecnologias desenvolvidas na ADCC é de extrema importância. “Essas atividades desenvolvidas juntas trazem autonomia tanto na produção para alimentação, quanto para a venda na feira e a agroindústria”, finaliza Elias.

E como toda boa narrativa traz um final feliz, a história da Associação de Desenvolvimento Comunitário de Caxambu, se fosse finalizada agora, apresentaria famílias vivendo com mais renda, segurança alimentar e diante de um meio ambiente preservado. O fato é que essa história ainda tem muitas páginas para serem escritas, gerando ainda mais resultados positivos para a comunidade.

Mas o segredo desse sucesso vem de uma fórmula simples: a interação entre os saberes tradicionais e científicos. Segundo Elias, foram aplicados questionários e realizadas pesquisas por técnicos de vários parceiros, e os agricultores participaram de todo o processo trocando seus conhecimentos populares com o científico dos técnicos. No que diz respeito à semente, por exemplo, há um grande conhecimento tradicional por parte dos agricultores.

Por Bruna Villarim, Assessora de Comunicação da RTS.

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